quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O PROTESTANTISMO E A CULTURA BRASILEIRA – SEGUNDA PARTE

Meus queridos alunos, o Assunto em foco já está pronto para ser estudado. Alguns pontos sublinhados, outros grifados com o intuito de uma melhor assimilação. Valendo ressaltar que o conteúdo foi feito a base de transliteração, reprodução e pesquisa. Não sendo de autoria nossa. Este material não está seguindo as regras gramaticais da ABNT.Mas independentemente, servirá para enriquecimento de nosso aprendizado. Boa leitura.

Como era visto o catolicismo no passado DENTRO DO BRASIL?

Vamos ao resumo de tudo aquilo que reproduzia a situação da Igreja Católica romana  no todo do país:

A fé católica oficial brasileira, já desde o começo, enfrentou conflitos de várias ordens ante os interesses “secularizantes” de grupos sociais e políticos. E esses conflitos, FAVORECERAM AO PROTESTANTISMO DENTRO DO BRASIL.

Alguns dos prováveis fatores que podemos citar que contribuíram para isso:
a) a crise fundamental do modelo do padroado na relação com o Estado,
b) a falta de recursos para o sustento e manutenção dos cultos e principalmente:
c) o conflito sangrento na tentativa de colonização dos índios, terminando com o morticínio de sacerdotes e freiras em alguns lugares como o caso do Grajaú – Maranhão.


Na realidade, no começo, o catolicismo era visto, na sua vertente popular e sincrética, com desconfiança por parte das elites eclesiásticas e políticas seculares. Essa forma devocional de religiosidade católica que foi implantada aqui no Brasil, que manifestava-se por meio de:
a)  festas,
b) procissões,
c) romarias,
d) das confrarias


(Confrarias - associações religiosas de leigos no catolicismo tradicional, que se reuniam para promover o culto a um santo.

Surgiram na Europa durante a Idade Média e espalharam-se nas colônias portuguesas. Foram um elemento importantíssimo da vida na América, especialmente no Brasil)

 e 
e) das irmandades.
(As irmandades são instituições religiosas compostas por leigos que tinham como objetivo ajudar os seus membros e a comunidade. 

As irmandades obedeciam a regras sancionadas pela Igreja e tinham as suas contas verificadas anualmentepor um dignitário religioso.

Estas instituições, que existiam na Europa desde a Idade Média, aparecem no Brasil a partirdo século XVIII, em especial na região de Minas Gerais.)
Essa forma devocional de religiosidade católica que foi implantada aqui no Brasil gerava desconfiança por parte dos “dominados”.  Observe que até nisto, encontramos um meio do protestantismo aproveitar e crescer em terras Brasileiras.   

E antes disso acontecer, a igreja católica se posicionou. A esse posicionamento, denominamos de “romanização”.

A “romanização”,  nada mais é do que o “rearmamento católico”, que tinha como referência e como  inimigo o avanço e esse possível crescimento protestante.



O protestantismo, embora ainda sem muita notariedade , inicialmente,  alcançou proporções mas forte , a ponto de fazer ressoar na Igreja Católica a necessidade de se romanizar ainda mais.







Romanização, a postura da igreja católica diante da entrada do protestantismo



O catolicismo da esfera oficial, então (representado pela hierarquia) incumbiu-se de, no decorrer do século XIX e início do século XX, a organizar a Igreja em sua força política e institucional agindo com alguns posicionamentos:
a) Aperfeiçoaram seu aparato burocrático,
b) Prepararam novos sacerdotes por meio dos seminários,
c) Visitaram os cantões da diocese (diocese  - do grego antigo dióikessis, é uma unidade territorial administrada por um bispo. É é a unidade geográfica mais importante da organização territorial da Igreja.)

Bem, esse foi um dos principais posicionamentos da igreja católica, visitando os cantões da diocese, poderiam  marcar a presença do bispo e reafirmar seu papel de construtora da ordem e modeladora das condutas sociais.


O PROTESTANTISMO NA PRIMEIRA REPÚBLICA

A Primeira República Brasileira, normalmente chamada de República Velha, [em oposição à República Nova ( período posterior, iniciado com o governo de Getúlio Vargas)],


 Foi o período da história do Brasil que se estendeu da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930 que depôs o 13º e último presidente da República Velha Washington Luís.

Bem, o protestantismo em seus sentidos e identidades (construídos dentro do redimensionamento do campo religioso na Primeira República), neste prisma, foi também um esforço de “protestantização”, ou seja, um fazer-se a si mesmo na conjuntura das primeiras décadas do século XX.

Nesta ocasião, os discursos pregados pelas instituições protestantes  e por alguns intelectuais evangélicos ( que aderiram ao movimento) era um tanto que diferente daqueles ouvidos nas paróquias católicas.
A comparação entre os discursos protestante e católico revelou suas polarizações e suas convergências se tomados diante da questão da cultura e da religiosidade popular.


A protestantização ( processo de infiltração e enraizamento na sociedade brasileira ) foi o processo levado a sério por instituições, igrejas, organizações,intelectuais, lideranças eclesiásticas e associações e objetivavam uma única coisa:  construir sentidos e identidades para a fé evangélica no Brasil.


A religião protestante, no período republicano,  ancorou-se em premissas:
a) teológicas,
b) políticas e
c) ideológicas,

Segundo o renomado escritor Bueno Braga, a ideologia protestante não tinha interesses apenas religiosos mas principalmente sociais, visto que foi baseada no pan-americanismo (BRAGA, 1916; BUENO, 2003).
O Pan-americanismo - foi uma tentativa de unificar todos os territórios da América espanhola, formando uma superpotência.
Essa tentativa de unificação, foi idealizada em 1826 pelo criollo venezuelano Simón Bolívar que junto com  San Martín (o governador da província de Mendonça), depois de ter lutado contra o domínio e a exploração espanhola, tornou  independente vários territórios da América espanhola. 

Mesmo idealizado, esse pan – americanismo, essa tentativa de unificação fracassou pela oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, que eram contra a formação de uma nova superpotência, já que ela poderia ser uma nova concorrência para eles.


Bem, para o escritor Bueno Braga, o interesse do protestantismo era mais social do que religioso.
Para muitos pensadores, os sentidos e as identidades foram tecidos no interior dos espaços estabelecidos de visibilidade social, (o que denominamos de ilhas de sentido)

Estas ilhas foram responsáveis pela:
a)  afirmação,
b)  construção e
c)  reprodução do famosos ethos evangélico no Brasil.


- Ethos, a palavra tem origem grega e significa valores, ética, hábitos e harmonia.
- podemos dizer que é o "conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de determinada comunidade".
- de forma mais específica, a palavra ethos significava para os gregos antigos a morada do homem, isto é, a natureza.
- Já para a Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo.
- Em resumo, o  termo está relacionado aos traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros.  Um valor de identidade social.
-  significa o modo de ser, o caráter, o comportamento do homem

Bem, mas voltando ao assunto, para esses  pensadores, os sentidos e as identidades do protestantismo, tecidos no interior dos espaços estabelecidos de visibilidade social, (o que denominamos de ilhas de sentido/ ethos brasileiro) funcionaram como espaço para as novas relações sociais estabelecidas. Organizadas e institucionalizadas, reforçadas pela divulgação e propagação das doutrinas e da ética religiosa, por meio da literatura, dos ideais religiosos e sociais do protestantismo.

(Segundo o escritor James KENEDY, em sua obra “ Associação Christã de Moços - um esboço da sua história, dos seus objectivos, e dos seus methodos. “ editado pela Casa Publicadora Methodista, em 1898 ) 

Como exemplo temos a  A.C.M. (Associação Cristã de Moços) que foi uma destas ilhas que:
a)  gestou essas identidades,
b) formou gerações de líderes e intelectuais,
c) reproduziu e divulgou os ideais cívicos e religiosos liberais
(Para o escritor célebre escritor Henri LEFEBVRE, em seu livro “ Introdução à Modernidade”, editado pela editora  Civilização Brasileira/Paz e Terra, em 1969):
O alinhamento da religião ao conceito de civilização utilizado no período buscava reforçar essa superioridade e alinhamento com o sentido da modernidade .

O que nos interessa nesta disciplina é que a crença protestante teve como representação um conjunto de figuras e símbolos, que sobreviveu
e atravessou credos diferentes, sendo ele mesmo ressonante aos sentidos já postos pela religiosidade antecedente.

Como exemplo, o nobre estudante e pesquisador Lyndon de Araújo  Santos, apresenta em sua pesquisa o QUADRO DOS DOIS CAMINHOS. 


Um quadro pintado que em si foi resultado de tendências teológicas e culturais européias, mas que foram sendo reapropriadas ao chegar no Brasil.

Surgida na década de 40 dos oitocentos, no contexto do pietismo alemão, a gravura originalmente pensada e patrocinada por uma mulher protestante, Charlotte Raihlen, migrou para a Holanda, para Inglaterra, para Portugal e, finalmente, para o Brasil, já pelo ano de 1910.

Ao chegar no Brasil, o quadro dos Dois Caminhos havia adquirido cores, novas inserções iconográficas, novos sentidos e separou-se do texto escrito pela autora que deveria acompanhá-lo. Na Inglaterra, o quadro foi utilizado como instrumento proselitista por cerca de vinte anos seguidos pelo pregador Gawin Kirkham, que realizou mais de novecentas pregações utilizando o quadro (KIRKHAM, 1888).

Nos cerca de 70 anos de utilização do quadro pelas igrejas evangélicas no Brasil, o quadro marcou profunda presença no interior dos templos e das famílias, como objeto visual de doutrinamento e representação de mundo para os fiéis.

Para os protestantes a representação de mundo foi sintetizada percebendo-se o quadro dos Dois Caminhos como um mapa dualista da vida cristã vivida no mundo hostil.

Além disso, suas imagens reproduziam o ideal puritano tal como foi representado pelo clássico da literatura religiosa protestante escrito por John Bunyan, O Peregrino (WHAREY,1960).

O foco entre cultura e protestantismo teve ainda o olhar do jornalista João do Rio que escreveu uma importante obra denominada As Religiões do Rio (RIO, 1976).

João do Rio registrou suas impressões acerca dos vários segmentos evangélicos na capital da República na virada do século XIX-XX.

Trata-se de um olhar de fora para dentro, de alguém desinteressado para com o assunto religião, mas que proporcionou ao pesquisador uma significativa fonte sobre a experiência religiosa no Brasil,
no caso no Rio de Janeiro, uma fonte não construída pelos discursos oficiais dos agentes religiosos.

O jornalista elencou os diferentes cultos na capital demonstrando a pluralidade religiosa no cotidiano carioca, dando a cada um suas características próprias. Sua perspectiva sobre os cultos evangélicos e suas igrejas foi criticamente positiva porquanto aliou às peculiaridades dos evangélicos os traços culturais dos brasileiros.

O protestantismo enquanto religião oficial não atuou de forma direta e decisiva na cultura e na religiosidade, destacando-se como movimento de vanguarda nas mudanças operadas na primeira república, também tomando os campos da política e da economia.

Mas ele esteve organicamente inserido e alinhado ao discurso da modernidade, ao imprimir marcas e traços que formaram sentidos e identidades a partir de suas crenças, instituições, publicações e ações concretas
Podemos afirmar, contudo, a contribuição indireta para o conjunto da cultura e da religiosidade brasileira se tomarmos o parâmetro institucional como referência de análise.

Neste nível, constatamos a conivência com a ordem republicana e liberal, da perspectiva progressista mas de não questionamento da ordem estabelecida.

Os discursos dos códigos de postura, da moral, da higiene, da civilização, do trabalho e da ética, compuseram o cardápio de idéias e valores que foram reproduzidos por seus fiéis.

No entanto, no estrato mais cotidiano da vivência dos sujeitos, da subjetividade, das visões de mundo, das práticas e das estratégias, outros ritmos e faces do sagrado foram demonstrados:

1. em novas sínteses culturais e religiosas acentuando o pluralismo religioso, acrescentando cores ao mosaico complexo da cultura religiosa;

2. na impregnação das escrituras como matriz alternativa do sagrado e inserindo uma nova fonte de leitura e interpretação de mundo; desde meados do século XIX a introdução maciça de literatura evangélica, sobretudo a Bíblia, testamentos ou livros sagrados,  injetou no campo religioso uma nova fonte de interpretação e interferência na experiência religiosa;

3. na criação de comunidades religiosas com outras formas de sociabilidade tecidas pelos códigos culturais dos sujeitos religiosos em suas posições e funções no contexto religioso;

4. na formatação de identidades sociais diferenciadas pelo modo de ser evangélico.

Se não quisermos a palavra fragilidade, posso substituí-la por flancos abertos, canais ou sulcos deixados para ainda serem trilhados e explorados. Pois o sagrado sempre terá faces a serem descobertas de acordo com as necessidades e os imperativos do presente da pesquisa histórica.

Bibliografia

BLOCH, Marc L. B. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e
Inglaterra. Trad. Júlia Mainard. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5 ed. Trad. Sergio Miceli [et alli]. São
Paulo: Perspectiva, 1999.
O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Lisboa/Rio de Janeiro:
Difel/Bertrand Brasil, 1989.
Razões práticas - sobre a teoria da ação. 3ed. Trad. Mariza Corrêa.
Campinas, SP: Papirus, 2001.
BRAGA, Erasmo. Pan-americanismo: aspecto religioso. Nova York: Missionary Education
Movement of the United States and Canada, 1916.

www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_santos.pdf 1
Wilkipédia

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